Teimosia
Nunca os Invernos foram tão rigorosos. Não nesta minha vida, que sem ser longa, está longe de ser curta. O frio espreita e entra sem pedir licença exibindo um comportamento abusivo ao ponto de até os meus ossos, que normalmente são calmos e conformados – ao contrário do meu fígado, esse sim um verdadeiro escravo de trabalho que definha à medida que se multiplicam os momentos de alcoólica confraternização com as almas que o destino me incumbiu de atormentar, e que carinhosamente me retribuem numa moeda de igual cunhagem – se queixarem vigorosamente fazendo-me sentir como um qualquer Czar prestes a deixar de o ser… Não sou muito de encarnado. Pois o roxo é cor que também dispenso. Mas o frio é senhor de elevada teimosia, lembrando-me a bem lembrar que por vezes apresento um comportamento semelhante… Sei bem o que é ser teimoso. Só não me posso esquecer até que ponto é que ser teimoso é não concordar com quem nos diz o que fazer, como fazer, quando fazer, quase sempre sem a preocupação de não gastar uma meia dúzia de palavras capazes de responder à questão que se impõe, porquê? A resposta a vital pergunta resolveria muitas das inúmeras teimosias que me rodeiam a mim, a ti, e a eles! Detesto ser teimoso quando me nego a responder a um porquê… Mas de facto, faço-o, não poucas vezes, sem que para tal tenha explicação. Em questão de palavras não gosto de ser forreta. Mas faço-o, e não poucas vezes. Pois penso seriamente em deixar de teimar na teimosia, nem que para perder tal vício tenha que me tornar no mais rigoroso dos teimosos. Daqueles como nunca vi, não nesta vida que sendo curta, já vai longa… O mais importante e digno de ser comentado e de ficar registado, no que toca a estas coisas de ser teimoso, é quando teimamos sem saber porquê, sem saber o que fazer, sem saber quando o fazer, e sem saber como o fazer. Simplesmente teimámos, teimámos, teimámos… Mas é esse tipo de teimosia que por vezes nos oferece momentos inesquecíveis, únicos, irrepetíveis, que nem esse maldito frio com todo o seu rigor consegue estragar… Não ontem, não hoje, e no que depender da minha teimosia, não amanhã!